É minha intenção divulgar, através deste meio, as minhas ideias a respeito da sociedade em que vivemos, expressas em todos os livros que escrevi, mais ensaísticos ou mais literários - Luis Valente Rosa.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Liberdade e amor

A solidão é (ou não) um pressuposto essencial da liberdade? Se for, está explicado porque é que a esquerda é individualista e a direita é gregária. E por que razão a direita anda sempre a defender a família. É porque, de facto, ela implica uma limitação importante da liberdade. Pode acontecer que nós desejemos essa limitação. E que a possamos preferir a uma solidão em privação emocional (sem amor, sem filhos, etc.). Mas não deixa de existir.

Sou, deste modo, obrigado a deduzir – dedução terrível – que o amor é um conceito de direita. Pelo que a grande dilaceração do homem pode residir na sujeição a essas forças de sentidos contrários que são, ao mesmo tempo, as suas duas características essenciais: a pulsão da liberdade (esquerda) e a pulsão do amor (direita). Estou a falar de um homem não submisso a qualquer doutrina. Porque os outros poderão não ter a pulsão da liberdade (os submetidos às doutrinas de direita) ou a pulsão do amor (os submetidos às doutrinas de esquerda – veja-se, a esse título, o imaginário da extrema-esquerda do meu tempo, muito visível nas peças políticas do Sartre, no qual o amor era um capricho burguês que devia ser totalmente submetido aos interesses da revolução).

Seguindo este raciocínio (que está mesmo com ar de, em breve, se tornar delirante), só a arte poderá talvez juntar os dois conceitos. Ela envolve uma liberdade máxima (daí a necessidade de solidão e de isolamento: ninguém consegue fazer arte em grupo, acho eu) e um amor obcecado (pelo processo artístico, ou seja, pelo próprio acto de se realizar essa arte – já para não falar do que a arte significa de amor, de dádiva abnegada em prol da dignificação da vida humana).

De qualquer forma, tal teoria significaria que todos nós temos de escolher, algures no tempo, entre essas duas grandes pulsões (estou um autêntico freudiano), fazendo-o de forma objectiva, através de actos públicos como a união com outro ser (casamento ou união de facto).

Como resultado de tal teoria, podemos concluir que a direita e a esquerda não são apenas ideias, coisas interiores em nós. São também manifestações exteriores, resultantes de opções deliberadas.

O que me lixa um bocado, porque eu gostava de ser um homem de esquerda em pleno, ou seja, sem mácula, e vejo-me um esquerdista pecador, cedendo, de forma muito significativa (e de forma muito intencional), à minha pulsão de direita. E faço-o, sentindo-me bem nessa minha vertente de direita.

E não me venham (à maneira do Hegel – a “dialéctica do senhor e do escravo”) com a história de a liberdade ter mais a ver com o nosso pensamento, o nosso interior, do que com os nossos actos (com o nosso exterior). Porque a liberdade é tudo. O que significa ser também o exterior.

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